segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mentem ao dizer a verdade

Sobre o cais do sodré
Olfegando a doce maré
Eles mentem à discarada
Mentem sem dizer nada

Existem moradores sós
e bocas amordaçadas com nós
há nas tampas de esgoto da rua
A voz da podre excelência sua

Mentem nas veias injectáveis
Mentem nos desejos invejáveis
Mentem porque é da idade
Mentem ao dizer a verdade

Olhares discretos sem vida
cobertos por pestanas de sida
doenças mortas em poisios
coladas em portas de armários vazios


há na rua uma mentira nova
A de que a velha levara uma sova
Não ganham o pão, caçam o dinheiro
a mentira sente-se até pelo cheiro

Mentem nas sabedorias iletradas
Mentem nas casas assombradas
Mentem porque têem saudade
Mentem ao dizer a verdade