quinta-feira, 3 de abril de 2014

Deixa-me

Neste momento deveriam correr lágrimas pelo meu rosto
Lágrimas essas que me secariam os olhos, a pele
Me secariam os lábios e a boca, de tal forma
Que nem este copo d'agua me molharia a boca

Neste momento deveria sentir apertos no peito
Apertos tão fortes que me faltasse o ar
Deveria sentir os olhos magoados
De conterem tantas mágoas

Deveria soluçar perdidamente pela falta de ar
Pela dor que deveria sentir em mim
Deveria corroe-me e matar-me por dentro
Agarrando com força o coração até sufocar

Mas não sinto nada, não me correm lágrimas pelo rosto
Não me seca a pele nem a boca, nem há água neste copo
Não agarro este coração nem o esmago
Porque se fosse chorar era estar-me a importar por quem não merece

Envelhecer

Segura-me, senta-me nessa cadeira arrastada
Deixa-me falar-te da minha solidão
Do tempo que me levou a vida e a memória
Levou pessoas, lugares e a história

Ha um tempo na vida 
Em que já não se quer saber o futuro
Em que nos arrependemos de não ter vivido
E em que recordamos aquele passado já fugido

Dá-me um copo com àgua
Tenho os lábios secos
Ajuda-me, tremo tanto
Fala para mim no entretanto

Sou arrastado pelo tempo
Como as pedras pelo rio
Quando a força do tempo acabar
Assim como as pedras, eu vou-me afundar

Apenas não morro porque ainda consigo sonhar
A minha juventude está viva nos sonhos
Mas a realidade é que me prende à vida
E me abraça até à despedida

Senta-te à minha beira
Como se sentam as saudades
Vem viver comigo a vida que nos resta
E que possa viver mais vidas como esta