sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

hoje, ontem e amanhã

Hoje eu era
O que amanhã sou
E o que ontem serei
.

Sou intemporalmente livre,
Por isso é que me mantêm preso.
Sou um sonhador,
Por isso é que me mantêm acordado.
Sou incondicionalmente alegre,
Por isso é que me mantêm triste.

Sou o que amanhã era
O que ontem sou
E o que hoje serei
.

Sou o começo de um final
E um meio sem meio
E sou também um início do nada.

Sou, serei e era
C'est la même chose.
O que interessa é ser
Não interessa o que.

Bem… na verdade interessa,
Eu quero que interesse!
Eu quero que sejas
Eu quero ser,
Mas ainda não o sou
Ainda não escolhi ser.

Hoje eu sou
O que ontem era
E o que amanhã serei
.

A minha manhã submersa

Para mim nasce de novo o dia,
O sol cresce detrás dos montes,
As estradas iluminam-se
E o manto branco faz sentir a sua presença.

A minha manhã submersa:
Submersa de neve;
Submersa de surpresa;
Submersa de alegria.

Espero todos os dias por esta manhã
Mas já não se concretizam os sonhos…
Já não sou criança,
Já não tenho imaginação.
Sou um mero pedaço de ser,
Que da esperança deixou lembrança
E da alegria, pouco resta, é triste e fugidia.

Todas as manhãs me levantava
E desejava ser criança outra vez.
Ter o poder de ser criança!
O poder de ter esperança.

A minha manha submersa
É um lugar sem fim.
É o desejo de me sentir feliz
Que me domina, enfim…

Agora já não tenho uma manhã submersa
O que tenho é a vida submersa:
Submersa de problemas;
Submersa de tristezas;
Submersa de trabalho.

Eu quero a minha manhã submersa!!!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Camaleão

Camaleão como posso ser como tu?
Exibir tantas cores,
Disfarçar-me como o meio.
Tentei de tudo…
Aguarelas, guache, tinta de pintor.
Tudo e de tudo nada resultou.
Camaleão como posso ser como tu?

Quero ser verde para ser erva
E assim o vento arejará os meus cabelos.
Quero ser azul para ser céu
E assim ver tudo lá de cima.
Quero ser castanho para ser terra
E assim ser o centro de tudo.
Quero ser transparente para ser água
E assim ser essencial à vida.
Quero ser invisível para ser vento
E assim viajar à volta do mundo.
Camaleão como posso ser como tu?

Camaleão agora não te safas.
Imitei-te e escondi-me no ramo.
Na 13ª ramada onde sempre te escondes,
Por cima da casa do esquilo e por baixo da do morcego.
Esperei que adormecesses de depois…
Ataquei!!
Zás!
Trás!
Pás!
Roubei-te as cores,
Ahahah! Camaleão albino!
Branquelas!!

Agora sou eu o camaleão e ataco sem perdão.
Ninguém me vê, sou invisível.
E tu pobrezinho, estás branco de medo,
Branco com frio, branco sem cor.
Camaleão meio camelo meio leão
Onde está essa garra de leão sem a tua juba?

Camaleão queres ser como eu?
Pinta-te de mundo e safa-te à tua maneira!
A vida não é fácil para ninguém.
Eu lutei pelo que quero,
Luta agora pelos teus direitos.
Contra mim infractor que te roubei a cor.

Vem camaleão exibe alguma razão.
Deixa de te esconderes.
Deixa de ficar calado.
São tempos de mudança.
Muda de atitude camaleão!
Muda de pensamento camaleão!
Muda de cor camaleão!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A sombra do ar

Vi-te na sombra do ar
O teu deslumbre
O ar que empurraste
O perfume que deixaste a pairar

Vi-te na sombra do ar
Como se de longe esperasse por ti
A certeza da tua aparência que se fixa no ar
O pulsar do coração a ameaçar a tua chegada

A mulher das suas origens

Olhos escuros
Pele escura
Cabelos escuros
Dentes brancos

Menina
Pequena
Infantil
Mulher


Ouve
Cheira
Reage

Estranha
Analisa
Pesquisa
Entranha

Sonha
Voa
Pensa
Actua

Com os seus olhos escuros a menina vê e estranha e deixa-se levar no sonho...
A sua pele escura ouve e analisa o voar do sentimento
Os seus cabelos escuros que o cheiro a flor pesquisa no pensamento memórias do tempo
Os seus dentes brancos que a mulher das suas origens conservou que de noite tudo reage à estranha luz que actua brilhante nos olhos de quem passa

É a mulher das suas origens que com o perfume de flores me deixa levar no seu sonho
Me ouve o bater do coração
Que me prende com o seu olhar
Que me aquece o corpo com os seus lábios de mulher

É a mulher das suas origens que nas mãos traz o cheiro a café
Na pele o calor dos novos dias
Nos cabelos o cheiro a flor renascentista
E nos dentes brancos a luz que ilumina o mundo de verdade e amor

É a mulher das suas origens.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A formiga marinheira

Na vastidão do seu mundo, navega a formiga.
Difícil é encontrar o caminho de volta, pois o vento enrola-a nas ondas do mar.
Não se afoga mas também não sabe nadar, apenas não se afunda
O esforço é constante mas não desiste.
Ainda sente o desejo de atravessar o infinito, tornando-o possível.
Perdeu a canoa, um ramo curto com uma folha amarrada.
Veleja agora sem vela, boiando nas ondas agressivas.
A derrota não se impõe.
Onde arranja tanta força de vontade?
Sem destino ou direcção, prossegue, sozinha em busca de terra,
Mesmo que não o encontre…

Formiga, formiguinha. Nada, nada, nadando…
Como foste aí parar?
Apreça-te a sair da água desse teu mar,
Nem uma pinga restará.
É que a sede é imensa, o povo aqui não brinca.
O calor faz-se sentir e mesmo à sombra,
Da sombra de onde perdeste a canoa
E caíste no mar.
Nada sabe melhor que um copo cheio com água.