quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Consequências

Porque? Porque é que olhei para a luz incandescente?
E que me ofuscou os olhos.
Fiquei seduzido eu sei
Mas agora não consigo ver mais nada,
O desejo cegou-me.

Maldita sejas…
Malditos olhos incendiados,
Malditos raios de luz que não saem dos meus olhos,
Que me amordaçam a visão,
Que me constrangem o olhar.

Quero voltar a olhar
Desaparece luz
Deixa-me ver a realidade
Deixa-me ver o que os meus olhos não conseguem
Quero ver…

Vem tu e cega-me com a luz da razão,
Mostra-me o caminho.
Deixa que eu o percorra ao teu lado
Que aos poucos volte a ver
E que deixe a cegueira no passado.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Espero pelo amanhã

Tenho o dom de tornar tudo o que é puro em impuro:
Seja oxigénio em algo mortífero para a vida,
Seja a maça dourada que transformo num caroço inútil,
Seja um sorriso numa lágrima penosa

Gostava de mudar, de me tornar um abraço
Que cure o mal, trazendo o bem.
Um curativo para um ferimento que teima em sarar
Que apenas traga alegria e descontracção.

Mas eu já fui feliz, agora sinto a dificuldade…
Nem todo o abraço me ajuda,
Nem todo o silêncio cura…

Não. Gostava de saber o que faço,
Ter a consciência das minhas acções.
Controlar os sentimentos
E poder viver os momentos,
Sem o peso da consciência.

Chego a desconhecer-me,
O meu ser confunde-me.
Penso que me divido…
Estarei a dividir-me ?
A separar o bem do mal
Enquanto o bem sobressai
O mal contrai e contrai.

E quando não aguenta mais,
Rebenta, e desaba Henrique Santos.
As tuas muralhas caíram meu grande,
As tuas tropas morreram.

Venha a pomba branca,
Abrindo as assas
E que te abrace,
Que te cure
Que te dê assas.
Para mais fácil suportares essa dor,
Levando assim o que atormenta.
Que mude quem és.
Eu sou o teu bem
Sou a tua pomba branca,
Eu sou o abraço que esperas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

folhas caídas do céu

Doi-me os dias e as noites.
Cansa-me o sol e a sombra.
Hoje não me apetece ser,
O que pensava que era.

Quero ser vingança,
Respeito e esperança.
Rios de chuva que me encaram,
Só vocês se dignam puros.

São o sol do acordar,
A lua do respirar,
O vento que me aperta as sapatilhas,
A calma que me faz sonhar.

São três segundos de palavras
Cinco minutos mudos
Dez horas surdos,
Uma vida despertado.

Cada vez aperta mais,
A corda que não me prende
Nem me magoa
Não me dói cada vez mais
Não sofro a dor do mundo.

Lembranças de Alzheimer,
Calma de Hiperactivismo,
Chama de água,
Música de vácuo.

Pareço o que pareces
E o que pareces ser.
Respeito o que pareces
E o que pareces ser.
Sinto o que pareces
Não calma…Já acabou.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Um capacete e uma arma na mão

Voltaria a trás, mas viria pelo mesmo caminho.
Não fui obrigado, vim por livre vontade.
Eu sei, infelizmente vim sozinho
Mas até me ajudaram um pouco.

Agora sinto a dor da viagem,
Agora sei se compensou ou não.
Por vezes senti-me espião,
Escondendo a mensagem do mundo,
Mas não há cadeado que prenda a razão.

Gostava de fazer um relato da viagem
Mas pessoalmente só eu sei o que doeu,
Ver o sol nascer, detrás das montanhas geladas.
O calor que me aquece as mãos frias.
Ver o rio fluir trazendo água límpida e fresca.
Ver as flores a sorrirem, e a erva verde brilhar
E saber que não podemos aproveitar.
Não há tempo, a mensagem é importante
E tem de se entregar.

Pois estamos em guerra!
São duas nações poderosas,
Uma tem inúmeros guerreiros
Outra enormes defesas.

Chega o dia e as nuvens aproximam-se
O dia apresenta-se tenebroso
As tropas estão no campo de batalha
Frente a frente e a chuva começa a cair…

Nas faces dos resistentes corre a água dos céus.
Por todo lado há corpos feridos no chão,
Ainda se ouvem as explosões
Os disparos são contínuos!
O sangue inunda o campo de batalha…

A dor é insuportável!
As lágrimas, a fraqueza da realidade,
A certeza da sua perda.

Dos campos áridos e molhados,
Onde sangue, água, sofrimento se misturam.
Mas não podemos parar
Temos de lutar pelo que queremos…

Uns querem o dinheiro da outra nação
Os outros queres apenas alargar território.
Qual o mais verdadeiro?
Qual o que terá mais razão?

Eu pensei que fosse apenas mensageiro,
Mas também entrei em guerra.
Foi fácil matar, era só premir o gatilho,
Mas ver os outros matarem o que me é mais importante?
Isso fica para sempre, infelizmente…

Derramei lágrimas por todos os que ficaram para trás.
Não há lugar para ódio nesta batalha,
Apenas a dor prevalece.
Os sobreviventes, os poucos que são
Muitos feridos ou emocionalmente destruídos,
Tentam arranjar forças para continuarem.

Eu sou um deles. Quando a vingança se apoderou de mim...
Bem… a minha vontade excedeu o medo
E saí do meu posto e corri louco para o inimigo.
Todos me seguiram. Todos!
Sinto-me culpado por ter arriscado a vida dos outros.
E agora? São aos milhares a entrarem no posto médico.

As tendas tentam ser provisórias
Mas a guerra ainda não teve um fim,
Só atenuou um pouco.
Continuará amanhã de certeza.

Fui alvejado, levei com estilhaços, implorei pela vida,
Por momentos vi uma verdade mais tarde desmentida.
Nas macas ensanguentadas vê-se a destruição,
O caos, o massacre e adivinha-se o dia seguinte.

Eis que ouço uma voz…
Sou eu, é o meu interior
Diz Henrique diz!

Que as minhas lágrimas se transformem em água que cai das nuvens
E a almofada que as recebe, campos secos e quentes.
Que o meu sangue que mancha toda a maca,
Se transforme numa mão que se abre a todo o mundo.
Que a minha dor, toda a dor que sinto
Seja a dor do mundo, que eu recebo para que não volte a haver sofrimento.
Para que nem toda a minha dor seja em vão
E para ajudar a curar a solidão.