terça-feira, 22 de março de 2011

Sou, muito longe daqui, um pouco de mim.

Há em mim memórias que não vivi.
Imaginei como seria um mundo longe daqui.
Criei planaltos, soalhos e tectos,
Arquitetei árvores e rios em planos rectos.
Sou, muito longe daqui, um pouco mim.
Viajo de elefantes nos seus arpões de marfim
Aqui, ando de bicicleta tão rápido como um foguetão!
Mas quando me deito e sonho... O vento é quente, e é Verão.
Hoje, apetece-me ser rei,
Governo o meu mundo segundo a minha lei!
Aqui, escrevo poemas à luz das velas
E assim as apago, quando me canso delas.
Lá sei voar sem asas nem com pós mágicos de giz,
Voo porque gosto e me faz feliz...
Aqui não o sei fazer, mas tenho uma capa e um super poder!
Sou um heroí com orgulho e garra, assim o posso dizer.
Comem-se as núvens e bolachas de sol,
Bebem-se as árvores e as estrelas que se vêem do farol.
Aqui, há algodão doce, há a sopa com letras a nadar,
Ai... O quanto me encanto a ver o meu nome a boiar...
Não, não é mais triste o meu mundo aqui
Mas o meu corpo quer fugir de si.
Um dia, gostava de viver nestas memórias...
Presenciar as minhas próprias histórias.
Já sinto a coragem de adormecer,
Enfrento o escuro que ainda me faz estremecer.
A minha mãe ajuda-me, adormece-me com um beijo
E eu lá vou todo em mim, deliciar-me em meu desejo.