domingo, 14 de dezembro de 2014

Sabes o que mais custa?

Sabes o que mais custa?
É sair do café ou de outro lugar qualquer
E ir sozinho para casa.
No silêncio da noite, sozinho...
E chegar a casa
E a casa estar vazia, fria e escura.
Suspiro... ligo o aquecedor e o computador.
Aqueço as mãos, os pés e o resto do corpo.
Desligo o aquecedor e o computador.
E vou dormir... Sozinho, frio e em silêncio.
É só isto...
Sem ti é só isto que a minha vida é.
Até deixar de saber viver só de ti
Estes são os dias que me esperam
As noites que me acolhem...
Sabes a que cheiram os dias?
Cheiram a um sótão vazio
Onde o chão é poeirento e estaladiço
As paredes são escuras e há pouca luz
Esse é o cheiro dos meus dias

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ser nada e ser feliz

Como é que não se ama algo que é efémero? 
Há tanto ódio e mal dizeres que todos se esquecem que tudo acaba e depois de acabar, já não tem interesse. Não há nada melhor do que sugar a vida até o tutano só para que depois ela possa acabar, se é para acabar ao menos que seja em grande! E de que maneira gostarias de acabar? ( repara que não digo morrer, pois morrer carrega muito sentimento, acabar é simples e belo)
Lembro-me de quando o meu filho ainda se debatia com questões como o equilibro e a fala antes de se tornar poeta e se perder no meio de amores, a minha mulher sempre reclamava por quando o miúdo partia um copo de vidro eu o abraçava, não que o estivesse a incentivar que partir copos é uma coisa boa, porque é, mas apenas porque nem tudo o que se parte é mau. Não há melhor satisfação pessoal do que partir um copo ou um prato, pelo sabor da emoção! À vezes em que é o que mais apetece, e o que à melhor do que partir um prato com todas as nossas forças no meio do chão e depois dizer com peito feito: amo-te porra! Obviamente que a minha mulher se assustava avidamente mas depois amava-me como só ela sabe amar, aquele jeito de dizer que também te ama mesmo sem precisar de falar ou olhar para ti... E a melhor parte do amor é que depois de partir o prato podemos apanhar os cacos juntos! Mas jamais hesitar por o prato ser centenário ou uma prenda daquela avó que só dá meias no natal e naquele ano lembrou-se de oferecer a quinquilharia toda que tinha em casa, a ganhar pó. Percebo que tenha muito significado mas parti-lo tem um significado maior. Estamos a acabar com um prato, por mim, partia o prato e colava os cacos todos só para ter o prazer de o partir novamente, vezes e vezes sem conta, porque nem tudo o que acaba é mau, sou feliz a partir a loiça toda ( acho que já deves ter percebido que graças a esta brincadeira eu tenho que comer sempre em pratos de plástico, opá cada louco com a sua loucura). Não obstante a essa panca, sou indubitavelmente feliz, porque vivo efemeramente, não me preocupo em perder um dia numa fila enorme só para ter um autografo do meu artista favorito tal como não me preocupa nem me afecta quando ele estiver para me dar um autógrafo eu vir embora de mãos vazias. Nada melhor de podermos ter a liberdade de acabar com tudo, sermos donos de nós mesmos, quantas vezes vi o dia acabar? Todos! E quando acaba chega a noite e a noite tem coisas mesmo bonitas. Virão? Nem tudo o que acaba é mau, pelo contrário, tudo o que acaba é bom. Acabe mais cedo ou mais tarde isso é à vontade de cada um... Excepto para os meus pratos, mas também se eu não os partir não são eles que se vão partir a eles mesmos... E não me venham com coisas do: "ai e tal e os sentimentos do prato, ele nunca quis que o partisses" e afins... Haverá algo mais glorioso do que um prato a partir? Se é para acabar que seja à grande e eu vou acabar da mesma maneira, vou acabar de partir este prato e ser feliz.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A insónia

Tudo o que exagera dói, cansa, farta
E não é esta casa vazia a estas horas
Que me vai dar vontade de dormir
Mas também não me acorda, entorpece-me

Sinto o vício caloroso da minha cama
A deliciar-se pelo meu corpo inerte
Mas só esta angústia perdura
Nesta noite que me prende à insónia

Se ao menos a insónia me fizesse feliz
Passaria noites a fio, a ser o que é ser criança
Se ao menos as noites não fossem tão sós
Talvez a insónia não custava tanto a viver

Ai... Que este enfarte de falta de sono
Me tira do sério, alguém mo tire de mim
Peço só por uma boa noite de sono
O que é que há de melhor do que dormir?

Facilmente o relógio pede favores às 4/5 da manhã
E eu deambulando pelos minutos da madrugada
Sem saber quando é que o sono vai chegar
Sempre a pensar que daqui a nada tenho de acordar


Henrique Santos

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fecho os olhos, abro os braços
Levanto o rosto, abro a boca
É tempo de sentir a chuva
A molhar-me o sangue
Penetrar-me por entre os ossos

Que mal me podes fazer 
Quando só queres ser minha?
Haverá algum mal
Dar-te espaço dentro de mim
Para que prospere um grande amor?

Sento-me à sombra de um sobreiro
Sinto o calor deste Alentejo
Fecho os olhos e inspiro
Os odores deste paraíso
Ao menos o verão é todos os anos

Endoideço com as tuas crónicas
Leio-te entre suores frios e quentes
Diz-me se há algo melhor 
Que toda a raiva e paixão 
Que despertas em mim!

Um dia vai haver tempo para nós
Um dia vai haver tempo para amar
Fecho os olhos, abro os braços
Levanto o rosto, abro a boca
É tempo de te começar a amar

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Eu sou feliz

  Os meus olhos estão enublados com a tua ausência, tenho o meu sangue pesado pela tua demora, tenho o nariz entupido por te teres afastado tanto que já nem te consigo cheirar, os meus ouvidos estão entorpecidos com o silêncio desta sala vazia que tu acabaste por deixar à alguns anos atrás, tenho as minhas veias e artérias vazias de ti, e o meu corpo despido de qualquer tipo de pele que possuirias no momento em que estávamos juntos.
  Explica-me de uma vez por todas porque é que eu não sinto as badaladas deste relógio quando penso em ti, porque é que depois de pensar em ti acordo sobressaltado sem saber o que estava a pensar, antes de pensar em ti. Explica-me porque é que a minha almofada ocupa exactamente à dois anos o mesmo lado da cama quando a cama é tão grande e tu costumavas ocupar o resto mas neste momento já não ocupas.
  Elucida-me do porquê de eu não conseguir, quando tomo o pequeno almoço, levantar o olhar da tigela cheia de cereais e leite morno, quando antigamente nem me apercebia que havia tigela... apenas existia o teu sorriso e o teu cabelo despenteado.
  Tudo o que era nosso nesta casa e que agora é só meu também já não o considero meu, não ouso usar nada que tu designaste de teu, tal como a minha t-shirt que usavas para dormir, nem a consigo tirar da gaveta, na qual guardo mais recordações nossas.
  Lembro-me tão bem de como nos compreendíamos bem, as palavras que proferíamos por mais complexas que fossem eram para nós tão simples como 1+1=2 e 2+2=4, e se alguma das nossas frases fosse complexa ao ponto de nenhum de nós perceber, isso daria imediatamente lugar a dois sorrisos tão tímidos e apaixonados que obviamente simplificariam tudo e para mim tudo no mundo era um sorriso teu.
  Antes dedicava-me a escrever-te cartas de amor, hoje faço o mesmo, mas embora a paixão seja a mesma, a dor de te ter perdido prende-me ao presente e não me deixa divagar muito. Lembras-te de termos os mesmos ideais, as mesmas palavras na boca no mesmo momento em que depois somente nos beijávamos? Lembras-te de como eram longas as noites quando falávamos horas a fio para nos conhecermos mais e melhor, e melhor e mais um pouco ainda, só para eu conhecer todos os bocados de ti e tu conheceres todos os bocados de mim.
  Adorava os dias mornos, no sofá deitados enquanto tu lias e eu te lia o corpo com os meus olhos, ficava horas a ver-te, reparava sempre nos teus óculos pendulantes na ponta do teu nariz, sem mesmo estes tirarem os olhos do livro, e eu apenas com os meus olhos lia páginas inteiras de ti, eram essas as tardes de que sinto falta, pequenos momentos que só os tinha contigo e era contigo que os queria voltar a ter.
  Desculpa todo este desabafo, sei que não mereces tal leitura fatídica mas não me sentiria bem comigo se não desabafasse, se não te dissesse que ainda te amo e que ainda sonho todos os dias que és minha e não há dia que não acorde e não olhe pela janela com ideia de te reconquistar, digo sempre: Hoje era um dia perfeito para nos apaixonarmos!
  Gostava por último de te dizer que à três anos atrás semeámos um sorriso na cara um do outro e desde então cresceu e cresceu, passou por dificuldades, murchou um pouco, mas como pode um sorriso murchar quando existes tu para o regares, sempre que te vejo oiço o teu nome ou te sinto em qualquer lugar, o meu rosto não me perdoa e sorri, sorri com tanta força que os meus dentes vêm mostrar-se ao dia, sorrio com tanta força que há gargalhadas que rejuvenescem da minha boca, sorrio com tanta força que levanto os braços no ar e grito bem alto sem saber o que grito, mas grito! O mundo não precisa de me compreender, eu não preciso de me compreender, apenas preciso de ser feliz, e quando estou contigo, sim... Eu sou feliz.

domingo, 27 de julho de 2014

Sabias que o mundo é redondo? É tão redondo que por mais longe que olhe, até mais do que a vista alcança, consigo sempre ver-te. Não por estares fisicamente mas porque para onde quer que olhe tu estás à minha frente.
Sabias que a noite não se fez sem a lua? E a lua não se fez sem o teu olhar, nem as estrelas sem o teu sorriso!
Sabias que a tua pele é como este mar? Hoje está tranquilo e calmo, e a tua pele toma hoje esta forma. Podia voar sobre a tua pele sem te tocar, que este mar, a tua pele, não reagiria ao meu passar, mas eu estaria sempre sobre a tua visão. Sabias que a tua pele é como o mar? Quando o mar está agitado, cheio de grandes ondas e tempestades, não que a tua pele perca a suavidade e a perfeição que tem, apenas gostava que ela se sentisse assim quando os nossos corpos se tocassem. A tua pele turbulenta e agitada, em fusão com a minha.
Sinto-me tão bem que podia viver assim eternamente! Espera, acho que não quero viver eternamente, exacto! Não quero viver eternamente. Mesmo se pudesse viver ao teu lado não queria a vida eterna. Gostava de saber como era morrer ao teu lado, ou morrer a amar-te, ou morrer sabendo que te amo e tu nunca sequer soubeste como eu me chamava. Desde que estejas em mim, eu posso viver e morrer. Viver para sempre é pouco tempo para quem quer viver, porquê viver para sempre quando se pode viver um dia, vamos viver tudo num dia! Amamo-nos e morremos no mesmo dia! O que será melhor do que te amar inteiramente durante 24 horas e no final do dia poder adormecer à tua beira e à tua beira, de mão dada, poder morrer? E no dia seguinte acordar só para te amar! Não há nada melhor do que poder acordar só para te amar a ti! Vamos viver um dia, um dia de cada vez, vamos viver dia a dia, sim! Vamos viver o dia-a-dia! Como se cada dia fosse o primeiro e o último, vamos amar pela primeira e ultima vez todos os dias. Que cada dia seja o nosso primeiro dia, o nosso primeiro orgasmo, o nosso primeiro beijo, a nossa primeira troca de olhares.
Sabias que o mundo é redondo? É tão redondo que por mais longe que olhe, até mais do que a vista alcança, consigo sempre ver-te. Não por estares fisicamente mas porque para onde quer que olhe tu estás à minha frente.
Sabias que a noite não se fez sem a lua? E a lua não se fez sem o teu olhar, nem as estrelas sem o teu sorriso!
E eu não fui feito para viver sem ti.
Podia passar horas a ver-te trabalhar, e quando me perguntares o que quero tomar eu direi que quero tomar o teu corpo, beber a tua vida, poder comer o bronze da tua face até chegar ao que é mais branco nos teus ossos.
Nada é mais branco do que os teus ossos e essa camisa, e sim já vi os teus ossos... De tanto olhar para ti conheço cada pedaço de ti, por dentro e por fora!
É tão fácil amar os teus contornos, o teu jeito com o pé sempre que te debruças sobre o balcão (pareces uma bailarina em pontas, e eu que nem aprecio bailado, aprecio-te tanto); o teu jeito a passear a bandeja apenas numa mão, o teu jeito de sorrir e me apaixonares.
Podia criar uma conversa mais interessante contigo do que simplesmente um olá e um pedido, mas apenas consigo conversar contigo por olhares que nem deves perceber que eles te dizem tanto, mas tanto. Se ouvisses o que os meus olhos dizem, ouvirias dizer o quanto gosto de ti e o esforço que faço para desviar o olhar de ti para que não notes que estou sempre a olhar para ti. Ouvirias dizer que deixei o meu carro ligado para que possas fugir agora comigo para nos abrigarmos da tempestade dos dias e dos furacões das noites,que os meus cobertores e o meu corpo é a combinação contra relâmpagos e eu bem sei o quanto os odeias.
Enquanto puder ver-te sem os olhos vou continuar a abraçar-te pela distância, enquanto puder amar-te pelos olhos vou continuar a beijar-te pelo murmurar do teu nome na minha boca, enquanto puder viver, quero poder viver perto de ti.
Quem inventou o amor inventou-te a ti,e depois fez-me com os restos da matéria que sobrou de ti e criou assim o amante. Se não fui feito para te amar então não fui feito para nada.
Admito que não gostei do adeus que me deste. Forjado com insipidez e frieza, sobrevoado sobre os ventos quentes do mediterrâneo onde as águas quentes e fervorosas trespassavam o navio. Disseste-me que a tua vida era em alto mal e que eu pertencia à terra onde crescem oliveiras e grandes carvalhos velhos, onde o vento apenas vem aos sábados e é o sol que viaja por mim e não eu que viajo pelo sol. Dizes-me que em terra existem raízes e que podes fixar um coração à terra e amar durante uma vida, a vida que encontras lá, mas em alto mar isso não acontece. Não há ancora que atraque um barco em alto mar, e que no mar o teu coração aquece e arrefece com a mesma facilidade com que mudam os ventos de rota.
Repetes tantas vezes as mesmas palavras que começo a acreditar que é verdade: a distância é soberana na separação perpétua dos nossos corpos. A tristeza já se apoderou do meu rosto da mesma forma como se tinha apoderado dos meus ossos e depois da minha carne e da minha pele. Chego mesmo a pensar, agora no conforto da minha cadeira assente em terra, que a rota do teu coração se afasta cada vez mais de mim e que nunca se aproximará. O mundo é infinito quando amamos, mesmo para que ama e não é correspondido, nesses casos a infinidade do planeta estende-se aos confins do universo.
É mau de mais ver os teus lábios partirem com a mesma facilidade como atracaram nos meus. Se calhar precipito-me nas paixões mas o peito não foi só feito para se encher de ar novo todos os dias, de certeza que fora feito para amar grandes amores, por mais pequenos que sejam e por pouco tempo que durem, sim, o coração foi feito para amar e não para viver. Viver sem amar não é viver. E tu não és excepção pois o meu coração pertence a zonas onde crescem oliveiras e grandes carvalhos velhos e nessa terra a ancora atracou-te bem junto ao meu peito e não cede a ventos nem a marés, por mais tempestuosos que sejam.
 
Para começar a amar precisas apenas de um olhar ou de um sorriso, ou por vezes nem isso, a facilidade de amar descansa na simplicidade e pureza dos corpos, mas para deixar de amar nem o tempo basta, não há coração que esqueça facilmente dos amores da juventude, nem os bons nem os maus, não há coração que rasgue páginas de vida com pudor e ódio, não há coração que rasgue páginas de vida com indiferença e tranquilidade sem que antes as lágrimas tivessem falado ao vento o quanto amaram e o que lhes custa partir daquele coração que tanto amou...
Amar é assim mesmo, levar as lágrimas do coração ao rosto sempre que partes, e levar as lágrimas do coração ao rosto sempre que voltas, e ter sempre frio no estômago e ter as mãos molhadas de sal quando partes e as mãos molhadas de sal quando regressas. Amar é ter o corpo envolto em finas lâminas de vidro sentirmos na pele o vidro a cortar-nos a respiração quando acordamos na cama vazia ou durante o almoço que agora se dá em frente à janela em vez de ser em frente a ti. Amar é o sangue que corre sem sair do corpo e que nos aquece por dentro. E quando sofres, ele sai-nos do corpo e doí ainda mais, arrefecendo-nos a pele e os ossos.
Amar é deixar de procurar em terra o que se quer procurar no mar, e eu vou partir agora que cheguei a terra para te procurar no mar, onde quer que estejas, eu encontrar-te-ei, pois não há nada que me atraia mais que a tua pele, e o desejo de te encontrar rema sem cessar contra qualquer maré. Podes até nem zarpar na minha direcção, podes até nem me querer na tua vida mas eu quero-te na minha, mesmo que nunca te chegue a ter mas amar é isso mesmo, amar é deixar de amar em terra o que só se pode amar no mar.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Não há palavra que me acalme mais do que o silêncio

Não há palavra que me acalme mais do que o silêncio.
O cheiro dos livros não me fala aos ouvidos
Mas nele sinto todas as palavras que ele tem para me contar.

Há tempos em que apenas o silêncio é onde quero estar.
Não que não goste do caos e o desassossego citadino!
Mas a simplicidade daquelas palavras mudas confortam-me.

O sossego é como um gelado no verão, como um café pela manhã,
Como um abraço num reencontro ou um beijo de despedida!
Não morremos se não o tivermos, mas é a melhor coisa do mundo...

Acho que posso descrever o silêncio como um acto de sedução.
Uns olhares tímidos e apaixonados a cruzar os cantos da sala
Sem que ninguém note que aqueles dois corações se apaixonaram.

Mas na verdade, eu nunca consigo estar parado!
Por muito quieto que me encontre, o meu cérebro...
O meu cérebro leva-me para onde a minha imaginação quer estar!

Mas na minha imaginação por muito agitado que esteja
Não há recriações de som, é um teatro mudo...
E assim, este cinema me entorpece-me os sentidos, fecho os olhos e até amanhã!

Assim por fim o silêncio alcança integralmente o meu ser.
E adormeço pela calada da noite, sobre o meu próprio silêncio.
E o único silêncio que não é silêncio é o silêncio do meu coração.


sábado, 17 de maio de 2014

O amor acontece

Vejo-me atrapalhado com os meus passos pela rua
O meu jeito trémulo, agitado e apressado, sempre nervoso
Encontro-me a compor todas a imperfeições em mim
Para estar perfeito para ti, para quando te encontrar
Me dares aquele beijo que me apazigua

A cada passo o meu coração apressa-se a chegar a ti
As minhas mãos estão suadas e tremem cada vez mais
Experimento falar baixinho para não me engasgar no momento
Olho-me novamente nas montras para ver se estou bem
Sei que não sou perfeito mas ao menos vale a intenção em si

Ao caminhar, levanto os olhos dos meus pés e do que vejo
Olho em frente e deslumbro-me com os teus passos
Os teus cabelos, os teus lábios vermelhos, o teu jeito de caminhar
Sem querer tropeço e embaraçado levanto-me rápido
Não notaste mas corei, aproximaste-te e abraçaste-me com um beijo

Agora não há cidades, não há prédios
Não há ruas, não há estátuas
Não há pessoas, não há pássaros
Não há barulhos, não há pontes
Não há alucinações nem espaço para tédios

Agora só existes tu, e eu
Desprendidos de todo o mundo
Enquanto ele passa por nós, imóveis
Mas assim ficámos nós,
A olhar-mos-nos em silêncio, tu e eu

O amor acontece entre mim e ti
E agora que nada nos separa
O amor por fim acontece
Tal como aconteceu
Na primeira vez que te vi

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Deixa-me

Neste momento deveriam correr lágrimas pelo meu rosto
Lágrimas essas que me secariam os olhos, a pele
Me secariam os lábios e a boca, de tal forma
Que nem este copo d'agua me molharia a boca

Neste momento deveria sentir apertos no peito
Apertos tão fortes que me faltasse o ar
Deveria sentir os olhos magoados
De conterem tantas mágoas

Deveria soluçar perdidamente pela falta de ar
Pela dor que deveria sentir em mim
Deveria corroe-me e matar-me por dentro
Agarrando com força o coração até sufocar

Mas não sinto nada, não me correm lágrimas pelo rosto
Não me seca a pele nem a boca, nem há água neste copo
Não agarro este coração nem o esmago
Porque se fosse chorar era estar-me a importar por quem não merece

Envelhecer

Segura-me, senta-me nessa cadeira arrastada
Deixa-me falar-te da minha solidão
Do tempo que me levou a vida e a memória
Levou pessoas, lugares e a história

Ha um tempo na vida 
Em que já não se quer saber o futuro
Em que nos arrependemos de não ter vivido
E em que recordamos aquele passado já fugido

Dá-me um copo com àgua
Tenho os lábios secos
Ajuda-me, tremo tanto
Fala para mim no entretanto

Sou arrastado pelo tempo
Como as pedras pelo rio
Quando a força do tempo acabar
Assim como as pedras, eu vou-me afundar

Apenas não morro porque ainda consigo sonhar
A minha juventude está viva nos sonhos
Mas a realidade é que me prende à vida
E me abraça até à despedida

Senta-te à minha beira
Como se sentam as saudades
Vem viver comigo a vida que nos resta
E que possa viver mais vidas como esta