domingo, 27 de julho de 2014

Admito que não gostei do adeus que me deste. Forjado com insipidez e frieza, sobrevoado sobre os ventos quentes do mediterrâneo onde as águas quentes e fervorosas trespassavam o navio. Disseste-me que a tua vida era em alto mal e que eu pertencia à terra onde crescem oliveiras e grandes carvalhos velhos, onde o vento apenas vem aos sábados e é o sol que viaja por mim e não eu que viajo pelo sol. Dizes-me que em terra existem raízes e que podes fixar um coração à terra e amar durante uma vida, a vida que encontras lá, mas em alto mar isso não acontece. Não há ancora que atraque um barco em alto mar, e que no mar o teu coração aquece e arrefece com a mesma facilidade com que mudam os ventos de rota.
Repetes tantas vezes as mesmas palavras que começo a acreditar que é verdade: a distância é soberana na separação perpétua dos nossos corpos. A tristeza já se apoderou do meu rosto da mesma forma como se tinha apoderado dos meus ossos e depois da minha carne e da minha pele. Chego mesmo a pensar, agora no conforto da minha cadeira assente em terra, que a rota do teu coração se afasta cada vez mais de mim e que nunca se aproximará. O mundo é infinito quando amamos, mesmo para que ama e não é correspondido, nesses casos a infinidade do planeta estende-se aos confins do universo.
É mau de mais ver os teus lábios partirem com a mesma facilidade como atracaram nos meus. Se calhar precipito-me nas paixões mas o peito não foi só feito para se encher de ar novo todos os dias, de certeza que fora feito para amar grandes amores, por mais pequenos que sejam e por pouco tempo que durem, sim, o coração foi feito para amar e não para viver. Viver sem amar não é viver. E tu não és excepção pois o meu coração pertence a zonas onde crescem oliveiras e grandes carvalhos velhos e nessa terra a ancora atracou-te bem junto ao meu peito e não cede a ventos nem a marés, por mais tempestuosos que sejam.
 
Para começar a amar precisas apenas de um olhar ou de um sorriso, ou por vezes nem isso, a facilidade de amar descansa na simplicidade e pureza dos corpos, mas para deixar de amar nem o tempo basta, não há coração que esqueça facilmente dos amores da juventude, nem os bons nem os maus, não há coração que rasgue páginas de vida com pudor e ódio, não há coração que rasgue páginas de vida com indiferença e tranquilidade sem que antes as lágrimas tivessem falado ao vento o quanto amaram e o que lhes custa partir daquele coração que tanto amou...
Amar é assim mesmo, levar as lágrimas do coração ao rosto sempre que partes, e levar as lágrimas do coração ao rosto sempre que voltas, e ter sempre frio no estômago e ter as mãos molhadas de sal quando partes e as mãos molhadas de sal quando regressas. Amar é ter o corpo envolto em finas lâminas de vidro sentirmos na pele o vidro a cortar-nos a respiração quando acordamos na cama vazia ou durante o almoço que agora se dá em frente à janela em vez de ser em frente a ti. Amar é o sangue que corre sem sair do corpo e que nos aquece por dentro. E quando sofres, ele sai-nos do corpo e doí ainda mais, arrefecendo-nos a pele e os ossos.
Amar é deixar de procurar em terra o que se quer procurar no mar, e eu vou partir agora que cheguei a terra para te procurar no mar, onde quer que estejas, eu encontrar-te-ei, pois não há nada que me atraia mais que a tua pele, e o desejo de te encontrar rema sem cessar contra qualquer maré. Podes até nem zarpar na minha direcção, podes até nem me querer na tua vida mas eu quero-te na minha, mesmo que nunca te chegue a ter mas amar é isso mesmo, amar é deixar de amar em terra o que só se pode amar no mar.