terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ser nada e ser feliz

Como é que não se ama algo que é efémero? 
Há tanto ódio e mal dizeres que todos se esquecem que tudo acaba e depois de acabar, já não tem interesse. Não há nada melhor do que sugar a vida até o tutano só para que depois ela possa acabar, se é para acabar ao menos que seja em grande! E de que maneira gostarias de acabar? ( repara que não digo morrer, pois morrer carrega muito sentimento, acabar é simples e belo)
Lembro-me de quando o meu filho ainda se debatia com questões como o equilibro e a fala antes de se tornar poeta e se perder no meio de amores, a minha mulher sempre reclamava por quando o miúdo partia um copo de vidro eu o abraçava, não que o estivesse a incentivar que partir copos é uma coisa boa, porque é, mas apenas porque nem tudo o que se parte é mau. Não há melhor satisfação pessoal do que partir um copo ou um prato, pelo sabor da emoção! À vezes em que é o que mais apetece, e o que à melhor do que partir um prato com todas as nossas forças no meio do chão e depois dizer com peito feito: amo-te porra! Obviamente que a minha mulher se assustava avidamente mas depois amava-me como só ela sabe amar, aquele jeito de dizer que também te ama mesmo sem precisar de falar ou olhar para ti... E a melhor parte do amor é que depois de partir o prato podemos apanhar os cacos juntos! Mas jamais hesitar por o prato ser centenário ou uma prenda daquela avó que só dá meias no natal e naquele ano lembrou-se de oferecer a quinquilharia toda que tinha em casa, a ganhar pó. Percebo que tenha muito significado mas parti-lo tem um significado maior. Estamos a acabar com um prato, por mim, partia o prato e colava os cacos todos só para ter o prazer de o partir novamente, vezes e vezes sem conta, porque nem tudo o que acaba é mau, sou feliz a partir a loiça toda ( acho que já deves ter percebido que graças a esta brincadeira eu tenho que comer sempre em pratos de plástico, opá cada louco com a sua loucura). Não obstante a essa panca, sou indubitavelmente feliz, porque vivo efemeramente, não me preocupo em perder um dia numa fila enorme só para ter um autografo do meu artista favorito tal como não me preocupa nem me afecta quando ele estiver para me dar um autógrafo eu vir embora de mãos vazias. Nada melhor de podermos ter a liberdade de acabar com tudo, sermos donos de nós mesmos, quantas vezes vi o dia acabar? Todos! E quando acaba chega a noite e a noite tem coisas mesmo bonitas. Virão? Nem tudo o que acaba é mau, pelo contrário, tudo o que acaba é bom. Acabe mais cedo ou mais tarde isso é à vontade de cada um... Excepto para os meus pratos, mas também se eu não os partir não são eles que se vão partir a eles mesmos... E não me venham com coisas do: "ai e tal e os sentimentos do prato, ele nunca quis que o partisses" e afins... Haverá algo mais glorioso do que um prato a partir? Se é para acabar que seja à grande e eu vou acabar da mesma maneira, vou acabar de partir este prato e ser feliz.