segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mentem ao dizer a verdade

Sobre o cais do sodré
Olfegando a doce maré
Eles mentem à discarada
Mentem sem dizer nada

Existem moradores sós
e bocas amordaçadas com nós
há nas tampas de esgoto da rua
A voz da podre excelência sua

Mentem nas veias injectáveis
Mentem nos desejos invejáveis
Mentem porque é da idade
Mentem ao dizer a verdade

Olhares discretos sem vida
cobertos por pestanas de sida
doenças mortas em poisios
coladas em portas de armários vazios


há na rua uma mentira nova
A de que a velha levara uma sova
Não ganham o pão, caçam o dinheiro
a mentira sente-se até pelo cheiro

Mentem nas sabedorias iletradas
Mentem nas casas assombradas
Mentem porque têem saudade
Mentem ao dizer a verdade

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ela recorda pela janela

Recorda pela janela

O que em pequena viu em grande,

Nos seus olhos amarelos vivos

Vê os pássaros que lhe chilreiam

As memórias de liberdade.

Recorda pela janela

Que não é o que em tempos foi

Porque de tão pequena que era

Ainda não o sabia bem.

Recorda pela janela

O espaço amplo da liberdade

Que se tivesse coragem voava!

Mas como não tem, não vive...

Recorda pela janela

As sombras sobre o sol,

As tardes quentes ao relento.

Ser mais livre seria impossível

Era esse o seu sustento.

O mundo para fora da janela

Invoca nela o medo de viver.

O hábito da segurança

Amedronta-lhe a coragem;

O mundo para fora da janela

Continua palpitando-lhe o coração

Mas quando se lhe abre a porta,

Sente-se presa no medo da liberdade.

O mundo para fora da janela

Abre-lhe ainda mais os olhos

Ela quase de se sente capaz de voar...

Mas recusa. A liberdade já tem fim à vista

Porque em vez de voar, só conseguiria saltar.

O mundo para fora da janela

Já não lhe agrada tanto

Mas não deslarga do coração,

As saudades dos seus olhos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Compreenda-se...

Hoje ao invés dos acontecimentos,
Debruço-me sobre o homem
De chapéu e bigode que
De tantas personalidades
Não encontra enfim... a sua.

domingo, 17 de outubro de 2010

Desenhas no céu estrelas de 5 pontas

Dá de beber às minhas palavras gastas,
Pois conheço todas as horas de domingo.
As horas em que te encontras comigo
E permaneço imóvel até que me beijes.

Debaixo da nossa roupa somos nus.
Somos o perfeccionismo da simplicidade,
A vaidade da mão dada, inocente,
O beijo "ó-de leve" sobre os lábios teus!

A agitada euforia por te ver,
Cresce dentro de mim.
Por saber que me queres
Eu insisto em ir mais depressa ver-te.

Não sou deveras sólido, como o meu corpo emana,
Sou também água que te limpa o rosto,
Sou também sal que tempera os sentidos
Mas não sou quem eu não queria ser...

Na ávida cortesia da manhã,
Desperta o relógio no tilintar
Audaz. Que me abre os olhos
Sobre o teu rosto delicado.

Sobre calçada, limpas os tamancos,
Ajeitas o vestido seco, em tons de branco.
Sacodes o cabelo do vento do Outono
E danças sobre as pedras ao sabor da macaca.

De longe se percebia a tua inocência
Mas de perto saboreia-se melhor.
Sentem-se os pormenores ao pormenor.
Desenhas no céu estrelas de 5 pontas

domingo, 12 de setembro de 2010

Estação

Fito as horas mortas dos dias sequestrados,

As linhas distorcidas das nossas memórias.

Avisto ao perto os comboios à espera

E pessoas apinhadas de horas perdidas.

O teu sorriso férreo do outro lado da linha

Desvenda em espiral os arcos deixados pelo vento.

Quando a saudade dos teus lábios cerra,

Um beijo atravessa a janela e me aconchega a tua partida.

O inverno é tão quente como as tuas mãos!

Duvido que longe de mim sejas verão...

Na ambição do teu lenço branco esvoaçante;

Na ambição do teu regresso no berço do meu ser...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Amor a condizer

Se as capas grossas dos meus cadernos dobrados,

Fossem, um dia, servir-te mil recados…

Eu estaria agora em ventre dos teus olhos.

Na palma das tuas mãos segredos aos molhos.

Oh Pátria! Minha agonia, por ti desejo…

Perante a janela, descalça te vejo,

Lágrimas que em rios desaguam

Às saudades que perduram.

Vinde de lá salvadora de meu esplendor,

Debruçar-te no meu regaço em flor.

Dividir-te os teus nobres cabelos com minhas unhas,

Glorificar o teu sorriso de doces cunhas.

Emana-te do sol e descai sobre o mar,

O mar do meu coração, pronto para te amar.

Embrulhas os cabelos em calçadas de prata,

E eu me debruço sobre teus lábios que outros lábios mata.

Sou um condenado ao teu fascínio ardente,

Que me dissolve o corpo e me comove a mente.

Visto as roupas que o armário que oferece a escolher

E saio à rua com o meu amor a condizer.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Insuflável

Sou um boneco insuflável

Que precisa do teu ar.

Preciso de ti!

Do teu respirar...

.

Só o teu ar me iça o peito

Mais nenhum me mantém vivo.

Outros ares me envenenam

Tenho que dizer que o teu ar é perfeito

.

Ar teu que me preenche,

Que me aquece o corpo frio.

Plástico moldável à tua imagem,

Sopra-me no coração enquanto enche...

.

Não há que recear,

Ele não rebenta.

O infinito ar que me dás,

É a vida que em mim estás a plantar.

.

Sopra, sopra, sopra em mim!

Eu retribuiu-te amor, amizade,

Compreensão, tudo em troca de ar.

Sopra, sopra, sopra para que nunca tenha um fim.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Doce água que corre nos teus véus

Água fugidia que me iluminou o dia

Essa água que em ti escorre

Te percorre o rosto, o pescoço

Suor frio? Não! Quente!

Suor de alegria dos teus olhos

Que por saudades desesperam

E aglomeram dia após dia

Explodes quando me vês

E eu quando te vejo, sim porque eu

Eu também as mereço sentir

Sinto e desejo por menos

Como anseio também por mais

Quanto mais, mais agregado seremos

Quanto menos, mais presente estarás

.

Algo em ti é outro espírito

Espírito que abre a minha alma

Me liberta o coração

Me reescreve em sinestesias

Palavras em sentidos

Restos de partes em tudo

Que tudo em ti é amor

Deixa-me pertencer

A esse fundo profundo

Que sobressai nos teus olhos brilhantes

Que me libertam e percorro o teu corpo

Liberto as mãos que o sentem

Que o agarram.

Deixa-te pertencer a mim

À nossa união, dois amores

.

Pinto o teu retrato num quadro de sonhos

Onde pousas despida de medos

Despida de pensamentos, agonias

Pousas só minha, só

E eu contigo me junto

E o desenho se desenha

E no final se mostra

Com as finas gotas de prazer

De um dia agitado

Que se acalma nos meus braços

Se domestica com beijos

.

Vem e solta-te por algas dos céus

Que me beijes por entre véus

Seremos naus infinitas

Por oceanos imprevisíveis

Insensíveis, que lhes tomaremos as rédeas

Dominaremos as profundidades

Dormiremos junto a recifes de suaves tecidos

Junto a paraísos fofos de areias molhadas

Que das quais faz parte o sal doce

Das tuas lágrimas contentes

.

Imaginar o impossível

Um amor superior ao nosso

Que se sobrepõe a relatividade do tempo

O seu inesgotável tempo

O tempo que o tempo demora a passar

Não supera a soberania do nosso amor

Sobre a qual construo castelos de ventos

Que arejam os teus cabelos

Que te recolhem do rosto a felicidade dos teus olhos

Para obviamente dar lugar a muita e muita mais

.

É desnecessário continuar sem ti

Ocorre uma hibernação do meu ser

És a primavera que me salvará

Deste inverno distante

Aparece, renova-me, inspira-me

Dá-me água fresca, floresce-me

Dá-me mais desse amor, puro

Selvagem, rebelde

Mas dá-me, alimenta-me

Que eu sem ti não sei viver

Sem ti não quero correr

Volto a ser quem não quero

Hiberno e desapareço

E encosto-me ao canto e deixo-me escorregar

E escorro, escorrem

As saudades pelo meu rosto sorridente

Que por ti esperou tão ausente

E por ti não se cansa

Tu és definitivamente

A causa mais que provada

Da existência de vida na Terra

.

Porque és tu que crias vida

Crias sonho, crias imagem

A imagem que acompanha os meus olhos

Eternamente a transportarão

Comigo a tua imagem

A imagem da

Doce água que corre nos teus véus

Sobre um corpo desejoso por mim

Que de mais nada espera se não por mim

Unicamente para se fundir

E originar uma super explosão

Maior do que a nos deu origem

Uma explosão de sentidos e sensações

Uma explosão de amor

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dor(de)mente

É tão cruel saber
Que numa perfeita gota de água
Em cloreto de sódio dissolvido
Tristeza, cansaço, dor e sofrimento
Mas no fundo do meu tormento
Que isto não é raro
É sempre que acordo
É sempre que respiro
Mas ninguém acredita
Falta realmente a crença
Que eu digo a verdade quando sofro
Por favor oiçam as minhas preces
Cubram-me com água
Dissolvam-me as doenças
Por vocês mundo eu sofro
Rastejo de imobilidade
O meu corpo já não pede
Ele já não fala
Não se mexe
Mas ainda vive
Mas cuidado meus amigos
Que não é meu corpo que amarga
Minha mente ferve
Minha cabeça aquece, ebolui
Não é cansaço não senhor
Não é físico
É a bombamente que se quer disparar
Espero poder aguentar
Se não me salvam já
Se ela rebenta
A luz escurece lenta
E me falta o respirar
Me cortam o olhar
O coração nas minhas mãos
Deixa de funcionar
Mas minha cabeça essa
Que em peças não vou poder juntar
Rebentou, morreu, estilhaços nos terraços
Se não me salvam já
Se ela rebenta
Honrem-me não por ser herói
Mas por acreditar no que mais ninguém acredita
Que nenhum Homem sofra
Da falta de credibilidade
Quando se trata de doença
Que não se lhe acabe a crença
Se não me salvam já
Ela rebenta

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Também eu sou vulcão

Asas que a tua boca silenciaram

Pessoas impacientes noites esperaram

Alvoroço por semi mundo

Terror tão profundo

.

A tua voz rouca e quente

Eternamente incandescente

O pó do tempo do céu caiu

Na tua voz se acumulou, bem se viu

.

Pareces pintor barroco

Que compra um quadro

E sem querer

Esquece-se do troco

.

Tão profunda e sagrada

Poesia consagrada

Que das chamas da tua voz

Memórias de sentimentos sós

.

Ninguém compreende

Tão profundo lamento

São mágoas de sofrimento

Quem algo mais infinito que o tempo?

.

Romeu, invoca-te daqui

Segue o rumo, foge de ti

Vai ter com quem mais queiras

Porque nos ares ainda paira o perfume que cheiras

.

Das cinzas poesia

Letras que no céu parecem magia

Fizeste do céu folha de papel

Uma tela que pintas com pincel

.

Vai, liberta-te

Acorda do sonho, desperta-te

Nos ares leva a tua alma

Desprende para sempre a calma

.

Que o tempo infinito não te apague a vela

Que os continentes que te separam dela

Que os mares não apaguem o fogo

E Vai! Parte para lá

Não voltes cá!

.

Mas enquanto partes eu questiono-me

Será o meu fervilhar de amor

Tão forte como o teu fervor?

.

Pobres tolos

Não vêm agora nada

Coitados, têm a vista atada

E culpam-te a ti

Errar é humano? e culpar?

Também será humano desculpar?

.

Pobres tolos

E eles continuam, lamentam-se

Cobres-lhes o céu

A noite estrelada o breu

Mal deles se soubessem

Que eles cobrem os olhos uns aos outros

.

Pois é poesia que invocas

Quem te poderá negar isso?

Tão belas provas

Que até do céu caem trovões

Brilhos, luzes, cores, aos milhões

.

Só quem não quer ver

Não quer ter

Amigo estendo-te a minha mão

Pois mesmo pequena

Só desiste quem não sabe que vale a pena

Só não parte quem não ama de coração

Quem sente...não mente

domingo, 28 de março de 2010

Morrendo de amores por ela

Cresce vento de luz
Que não a ti se encontrem.
Fios de vida que amarras,
A calma serena que jaz

Se por pequeno duvidas...
Adormecido pensamento
Que grandiosa certeza
Que em ti só vejo beleza!

São palavras que esvoaçam.
Nas marés dos teus cabelos,
Que em sonhos entrelaçam
E em mim... Em mim o sonho continua...

Agora quero sentir-te o rosto.
Preso às minhas mãos
Que desmedidas contrastam, pena,
Tão impuras seguram
A obra-prima dos Deuses

Em vitral se miram
Primem as pestanas que soltam a lágrima
Que salga a despedida
Em vão ela desaparece,
E ele... vai, vai...
Morrendo de amores por ela...

domingo, 14 de março de 2010

Um Picasso que me pinta as mãos

Tomo uma venda que me cobre os olhos.
Fito o escuro,
Como se nele a minha mente estivesse escrita…
O meu corpo permanece imerso,
Na escuridão da minha mente
E o meu corpo, frio, nu…
Pode agora servir de tela
Àquele que me pinta as mãos.

Confio, pois não suspeito.
A angústia é o meu pior defeito.
Solto as mãos, perante a imensidão,
Agarram o ar, preso a correntes.
A loucura implora para que as corte com os dentes.
Solta-se implorativa, mas em vão...

Imploro à loucura, pela definição.
O amargo sabor a derrota,
De ninguém compreender a vastidão
Do meu ser que a alma invoca.
Fatigado, pensa e deixa de sonhar,
A razão já não parece, padece...

A compreensão: assumida atenção
Que prende ao olhar, a certeza do pensar.
Desvio o meu escuro e os meus pincéis deixam de pintar
O mundo vazio, já contêm fragrância,
Prende-me o olfacto
E desejo o que sinto.

É a realidade que me prende ao sono;
Me transforma, me seduz…
O único produto do imaginário
Que me permite no túnel ver luz,
Me esperança gratidão,
Um perfeito bem executado…

São eixos descontrolados
De marionetas, jogos do ser…
Inanimados, soldados recrutados
Mas que ganham vida,
A vida que ele garante.
Mas a ele deixo o sonho
Ao Picasso que me pinta as mãos…

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Consequências

Porque? Porque é que olhei para a luz incandescente?
E que me ofuscou os olhos.
Fiquei seduzido eu sei
Mas agora não consigo ver mais nada,
O desejo cegou-me.

Maldita sejas…
Malditos olhos incendiados,
Malditos raios de luz que não saem dos meus olhos,
Que me amordaçam a visão,
Que me constrangem o olhar.

Quero voltar a olhar
Desaparece luz
Deixa-me ver a realidade
Deixa-me ver o que os meus olhos não conseguem
Quero ver…

Vem tu e cega-me com a luz da razão,
Mostra-me o caminho.
Deixa que eu o percorra ao teu lado
Que aos poucos volte a ver
E que deixe a cegueira no passado.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Espero pelo amanhã

Tenho o dom de tornar tudo o que é puro em impuro:
Seja oxigénio em algo mortífero para a vida,
Seja a maça dourada que transformo num caroço inútil,
Seja um sorriso numa lágrima penosa

Gostava de mudar, de me tornar um abraço
Que cure o mal, trazendo o bem.
Um curativo para um ferimento que teima em sarar
Que apenas traga alegria e descontracção.

Mas eu já fui feliz, agora sinto a dificuldade…
Nem todo o abraço me ajuda,
Nem todo o silêncio cura…

Não. Gostava de saber o que faço,
Ter a consciência das minhas acções.
Controlar os sentimentos
E poder viver os momentos,
Sem o peso da consciência.

Chego a desconhecer-me,
O meu ser confunde-me.
Penso que me divido…
Estarei a dividir-me ?
A separar o bem do mal
Enquanto o bem sobressai
O mal contrai e contrai.

E quando não aguenta mais,
Rebenta, e desaba Henrique Santos.
As tuas muralhas caíram meu grande,
As tuas tropas morreram.

Venha a pomba branca,
Abrindo as assas
E que te abrace,
Que te cure
Que te dê assas.
Para mais fácil suportares essa dor,
Levando assim o que atormenta.
Que mude quem és.
Eu sou o teu bem
Sou a tua pomba branca,
Eu sou o abraço que esperas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

folhas caídas do céu

Doi-me os dias e as noites.
Cansa-me o sol e a sombra.
Hoje não me apetece ser,
O que pensava que era.

Quero ser vingança,
Respeito e esperança.
Rios de chuva que me encaram,
Só vocês se dignam puros.

São o sol do acordar,
A lua do respirar,
O vento que me aperta as sapatilhas,
A calma que me faz sonhar.

São três segundos de palavras
Cinco minutos mudos
Dez horas surdos,
Uma vida despertado.

Cada vez aperta mais,
A corda que não me prende
Nem me magoa
Não me dói cada vez mais
Não sofro a dor do mundo.

Lembranças de Alzheimer,
Calma de Hiperactivismo,
Chama de água,
Música de vácuo.

Pareço o que pareces
E o que pareces ser.
Respeito o que pareces
E o que pareces ser.
Sinto o que pareces
Não calma…Já acabou.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Um capacete e uma arma na mão

Voltaria a trás, mas viria pelo mesmo caminho.
Não fui obrigado, vim por livre vontade.
Eu sei, infelizmente vim sozinho
Mas até me ajudaram um pouco.

Agora sinto a dor da viagem,
Agora sei se compensou ou não.
Por vezes senti-me espião,
Escondendo a mensagem do mundo,
Mas não há cadeado que prenda a razão.

Gostava de fazer um relato da viagem
Mas pessoalmente só eu sei o que doeu,
Ver o sol nascer, detrás das montanhas geladas.
O calor que me aquece as mãos frias.
Ver o rio fluir trazendo água límpida e fresca.
Ver as flores a sorrirem, e a erva verde brilhar
E saber que não podemos aproveitar.
Não há tempo, a mensagem é importante
E tem de se entregar.

Pois estamos em guerra!
São duas nações poderosas,
Uma tem inúmeros guerreiros
Outra enormes defesas.

Chega o dia e as nuvens aproximam-se
O dia apresenta-se tenebroso
As tropas estão no campo de batalha
Frente a frente e a chuva começa a cair…

Nas faces dos resistentes corre a água dos céus.
Por todo lado há corpos feridos no chão,
Ainda se ouvem as explosões
Os disparos são contínuos!
O sangue inunda o campo de batalha…

A dor é insuportável!
As lágrimas, a fraqueza da realidade,
A certeza da sua perda.

Dos campos áridos e molhados,
Onde sangue, água, sofrimento se misturam.
Mas não podemos parar
Temos de lutar pelo que queremos…

Uns querem o dinheiro da outra nação
Os outros queres apenas alargar território.
Qual o mais verdadeiro?
Qual o que terá mais razão?

Eu pensei que fosse apenas mensageiro,
Mas também entrei em guerra.
Foi fácil matar, era só premir o gatilho,
Mas ver os outros matarem o que me é mais importante?
Isso fica para sempre, infelizmente…

Derramei lágrimas por todos os que ficaram para trás.
Não há lugar para ódio nesta batalha,
Apenas a dor prevalece.
Os sobreviventes, os poucos que são
Muitos feridos ou emocionalmente destruídos,
Tentam arranjar forças para continuarem.

Eu sou um deles. Quando a vingança se apoderou de mim...
Bem… a minha vontade excedeu o medo
E saí do meu posto e corri louco para o inimigo.
Todos me seguiram. Todos!
Sinto-me culpado por ter arriscado a vida dos outros.
E agora? São aos milhares a entrarem no posto médico.

As tendas tentam ser provisórias
Mas a guerra ainda não teve um fim,
Só atenuou um pouco.
Continuará amanhã de certeza.

Fui alvejado, levei com estilhaços, implorei pela vida,
Por momentos vi uma verdade mais tarde desmentida.
Nas macas ensanguentadas vê-se a destruição,
O caos, o massacre e adivinha-se o dia seguinte.

Eis que ouço uma voz…
Sou eu, é o meu interior
Diz Henrique diz!

Que as minhas lágrimas se transformem em água que cai das nuvens
E a almofada que as recebe, campos secos e quentes.
Que o meu sangue que mancha toda a maca,
Se transforme numa mão que se abre a todo o mundo.
Que a minha dor, toda a dor que sinto
Seja a dor do mundo, que eu recebo para que não volte a haver sofrimento.
Para que nem toda a minha dor seja em vão
E para ajudar a curar a solidão.