domingo, 3 de janeiro de 2010

Um capacete e uma arma na mão

Voltaria a trás, mas viria pelo mesmo caminho.
Não fui obrigado, vim por livre vontade.
Eu sei, infelizmente vim sozinho
Mas até me ajudaram um pouco.

Agora sinto a dor da viagem,
Agora sei se compensou ou não.
Por vezes senti-me espião,
Escondendo a mensagem do mundo,
Mas não há cadeado que prenda a razão.

Gostava de fazer um relato da viagem
Mas pessoalmente só eu sei o que doeu,
Ver o sol nascer, detrás das montanhas geladas.
O calor que me aquece as mãos frias.
Ver o rio fluir trazendo água límpida e fresca.
Ver as flores a sorrirem, e a erva verde brilhar
E saber que não podemos aproveitar.
Não há tempo, a mensagem é importante
E tem de se entregar.

Pois estamos em guerra!
São duas nações poderosas,
Uma tem inúmeros guerreiros
Outra enormes defesas.

Chega o dia e as nuvens aproximam-se
O dia apresenta-se tenebroso
As tropas estão no campo de batalha
Frente a frente e a chuva começa a cair…

Nas faces dos resistentes corre a água dos céus.
Por todo lado há corpos feridos no chão,
Ainda se ouvem as explosões
Os disparos são contínuos!
O sangue inunda o campo de batalha…

A dor é insuportável!
As lágrimas, a fraqueza da realidade,
A certeza da sua perda.

Dos campos áridos e molhados,
Onde sangue, água, sofrimento se misturam.
Mas não podemos parar
Temos de lutar pelo que queremos…

Uns querem o dinheiro da outra nação
Os outros queres apenas alargar território.
Qual o mais verdadeiro?
Qual o que terá mais razão?

Eu pensei que fosse apenas mensageiro,
Mas também entrei em guerra.
Foi fácil matar, era só premir o gatilho,
Mas ver os outros matarem o que me é mais importante?
Isso fica para sempre, infelizmente…

Derramei lágrimas por todos os que ficaram para trás.
Não há lugar para ódio nesta batalha,
Apenas a dor prevalece.
Os sobreviventes, os poucos que são
Muitos feridos ou emocionalmente destruídos,
Tentam arranjar forças para continuarem.

Eu sou um deles. Quando a vingança se apoderou de mim...
Bem… a minha vontade excedeu o medo
E saí do meu posto e corri louco para o inimigo.
Todos me seguiram. Todos!
Sinto-me culpado por ter arriscado a vida dos outros.
E agora? São aos milhares a entrarem no posto médico.

As tendas tentam ser provisórias
Mas a guerra ainda não teve um fim,
Só atenuou um pouco.
Continuará amanhã de certeza.

Fui alvejado, levei com estilhaços, implorei pela vida,
Por momentos vi uma verdade mais tarde desmentida.
Nas macas ensanguentadas vê-se a destruição,
O caos, o massacre e adivinha-se o dia seguinte.

Eis que ouço uma voz…
Sou eu, é o meu interior
Diz Henrique diz!

Que as minhas lágrimas se transformem em água que cai das nuvens
E a almofada que as recebe, campos secos e quentes.
Que o meu sangue que mancha toda a maca,
Se transforme numa mão que se abre a todo o mundo.
Que a minha dor, toda a dor que sinto
Seja a dor do mundo, que eu recebo para que não volte a haver sofrimento.
Para que nem toda a minha dor seja em vão
E para ajudar a curar a solidão.