quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aparecer desaparecendo

Eu
Estou a crescer
Sinto-me bem maior, mais alto
Estou a ficar grande e a ver os outros pequenos
Estou gigantesco. Dificilmente me seguro em pé, tenho vertigens
Não caí mas fiquei mais pequeno, parece que fiquei sem pés
Sinto-me a desaparecer as pernas estão a ficar curtas
Estou a desaparecer como a areia no deserto
Lentamente o tempo me leva
E de grande que era
Pequeno sou
Eu

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Trabalhador incolor

Vagueio inócuo pelas ruas,
Sozinho no meio da multidão.
Os empurrões, encontrões tornam-se constantes,
Algo que nunca mudará.
O sentimento de imponência…

Chego ao destino e o som ainda não se propaga,
Só começa a melodia ao abrir a porta
Num tom monocórdico bastante elevado.
Uma sinfonia imprópria para qualquer ouvido
Mas uma música que todos já ouvimos.

Sou um como muitos outros que se limita a ouvir.
A liberdade de expressão não se aplica aqui.
O silêncio é a melhor palavra dizem eles.
Ninguém responde…

Sinto-me como um espelho, indefinido…
Vou reflectindo a imagem do mundo.
Manter-me actualizado.
Mas sou água, sou oceano.
Um invisível mortal

Admito, sou transparente ao olho despercebido.
Mas tenciono ganhar cor, ganhar vida
Crescer, colorir-me.
Penso que o sonho é um pincel com milhões de cores mesmo à mão,
O que lhe falta é imaginação, indecisão
E força de realização

De momento ainda não sou.
Sou, mas não sou
Afinal sou!
Um trabalhador incolor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

1000 Kg de vida

A vida é um objecto em queda,
Nasce e cresce nas nuvens
E vem descendo lentamente
Até à queda final.

A vida tem peso,
Peso esse que a acompanha sempre,
Excepto quando viaja para muito longe
Tão longe quando a vista alcança
E nem o radar detecta.
Há quem lhe chame consciência…
Eu chamo-lhe gravidade!

Somos forçados a cair
Pois não sabemos voar,
Mas até os pássaros caem,
Só que se divertem no ar.

Um dia pensei ser imortal!
Mas isso implicaria ver os outros cair
Não poderia conhecer ninguém…
Pois eles seguiriam viagem.

Por isso quis saber voar,
Mas o peso que a vida tem
Não me permitia.
Dizia que o céu é apenas para o sol
Onde brilha todas as manhãs.

A vida tem um peso
Pesa mesmo muito
Não há Hércules que aguente
A força gravítica da vida
Que nos permite movimento
Mas que nos prende ao chão.