sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Deambulante pelas calhas
O homem apaga-se nas esquinas da cidade
É tão recôndito o seu intelecto
Desmorona a sua própria vida

Fuma o ultimo cigarro do dia
Recolhe-se no seu habitáculo
Diz as últimas palavras da noite
E faz amor com os seus sonhos

Não pertence a ninguém
Paga a conta duma alma sem corpo
Não foi ninguém em tempos
Não será ninguém agora

Foge dos seus próprios medos
Corroí o seu sangue com vitimas da sua vida
É um homem de nome
Um corpo na solidão

De o ver, soletro cada pedaço de mim
Para que não contacte com ele
Cheira a morte e a medo
É um podre pedaço mutilado da sociedade

Sobre ele há pouco para contar
Ignorado, desterrado, ingrato
arrogante, nocivo para o ambiente
Conta-se que viveu um grande amor

Não obstante à curiosidade está o rancor
O ódio e o d'escarnio,
Guardo distância dele, o seu cheiro incomoda
De relance miro-o enquanto oiço a sua história

Em tempos um nobre rapaz
De afortunada família
Desgraçou todo o seu esplendor
Numa jovem fêmea que enamorava

Conta-se que eram felizes em tempos
Se amavam tanto que se fundiam e eram só um
Um corpo dividido entre sexos, na plenitude da juventude
Que mutilavam as relações com os outros, eram só eles

Aguardava ele a sua chegada
Desesperado pela demora
Espeta em si as suas cartas
O seu perfume e adormece... durante anos sem ela

Ela, já não era ela, já não existia no seu mundo
Fora sempre uma ilusão, uma imagem vazia
Rompe-se então num bruto desengano
Guardar a morte dela na vida do corpo dele

Larga portas do mundo que já nem fazia parte
E leva-a longe da sua terra
Sobrevive do sangue e da carne das suas memórias
Vai morrendo ele também junto do corpo dela

Abraça-a todas as noites numa envolvência
De raiva e ódio, amor cruel o daquele pobre
Arranha-se no corpo dela para ela sentir
A sua presença onde quer que ela se encontre

Vagueia agora este corpo dela e dele
Pelas calhas da minha cidade
Impestar a pureza do mundo
Com a loucura dum amor predilecto

Este homem garante que amou
Amou tão intensamente que se fundiu com ele
Foi tão intenso, tão vibrante, tão intimo
Que deixou de ser humano

É algo que a loucura compreende como normal
Romântico, apaixonado, louco um pouco
Para nós é o puro sadismo e ofensa
Livre-mo-nos nós do pecado dos seus olhos

Foi na loucura do seu amor que me recosto
Na cadeira do jardim, e me deparo
Com a intensidade que um sentimento pode eventualmente ter